Biografia resumida dos Sete Fundadores da SSVP
(Texto do próximo livro do Cfd Renato Lima, 16º Presidente Geral da SSVP)
Pierre-Emmanuel-Félix Clavé

Pierre-Emmanuel-Félix Clavé (1811-1853) era, dentre os sete fundadores, o menos conhecido. Nasceu na Província de Haute-Pyrenees, ainda que alguns livros indiquem que ele teria nascido em Toulouse. Mudou-se para Paris em 1831, quando conheceu Ozanam e Bailly de Surcy. Nesse tempo, ele se apaixonou por uma moça parisiense que não pôde corresponder ao romance por considerar Clavé de uma classe social inferior à dela. Essa rejeição amorosa trouxe-lhe grande dor no coração. Era também membro das Conferências de História. Com o desdobramento da primeira Conferência, Clavé tornou-se presidente da Conferência São Felipe du Roule, de Paris. Ele era um homem de letras e das leis. Publicou várias obras, entre elas uma coleção de poesias e um livro sobre o Papa Pio IX. Trabalhou na Argélia e no México. Casou-se com Marie-Louise Sorg em 1847. Não teve filhos. Seu nome foi envolvido injustamente num caso jurídico, sendo alvo de chantagens e de falsas acusações, atingindo fortemente a sua reputação. Por conta das arbitrariedades que sofreu, teve sua saúde mental debilitada, o que contribuiu para a sua morte ainda muito cedo, aos 42 anos de idade. A esposa de Clavé, nos últimos anos da vida dele, diante da saúde mental debilitada que ele enfrentava, foi obrigada a interná-lo numa clínica de reabilitação nos Pirineus, para o tratamento dos problemas nervosos. Depois de curado, ele tornou-se funcionário da clínica.

Jules-François-Louis Devaux

Jules-François-Louis Devaux (1811-1880) nasceu em Colombières. Filho de médico, Jules Devaux primeiro estudou em Caen. Aos 20 anos,  foi a Paris para estudar medicina na Sorbonne. Ele se encontrou lá pela primeira vez com Antônio-Frederico Ozanam. Em 1833, Devaux  foi um dos sete fundadores da Conferência de Caridade. Ele foi escolhido para ser o primeiro tesoureiro da Conferência, e também seria o primeiro tesoureiro da Sociedade de São Vicente de Paulo. Foi ele quem colocou o grupo em contato com Irmã Rosalie Rendú (FC), que imediatamente aprovou suas intenções e mostrou-lhes como agir concretamente junto aos mais pobres. Tendo completado seus estudos médicos, Jules Devaux deixou Paris em 1839 para se estabelecer na Normandia. Ele praticou a medicina em Honfleur. Com o falecimento da mãe dele,  parou de praticar a medicina. Em seguida, ele viajou pela Europa, especialmente na Alemanha, onde tentou sem sucesso fundar uma Conferência vicentina. Devaux viveu em Munique e atuou junto com o padre Maret. Ele casou com Louise Alice Pasquet em 1848, tendo apenas um filho. Morreu com 69 anos de idade, em Paris.

Paul Lamache

Paul Lamache (1810-1892) foi o fundador mais longevo. Lamache nasceu numa vila chamada Saint-Pierre-Eglise, na Normandia, no norte da França, distante cerca de 350 km de Paris. Seu pai era médico e foi também prefeito de sua cidade natal. Mudou-se para Paris para estudar Direito, na Sorbonne, assim como Ozanam e outros fundadores. Em 1832, Lamache conheceu Ozanam e juntou-se a ele na “Conferência de História”, onde tomava parte ativa nos debates. Ele escreveu muitos artigos para diferentes revistas e outros meios de comunicação da época, sendo muito atuante no debate de ideias. Foi o primeiro escritor católico a declarar-se contra a escravatura. Ao finalizar os estudos jurídicos, Lamache casou-se em 1844 com Henriette d’Humbersin, tendo cinco filhos. Lamache era também um estudioso da área de educação e participou ativamente nas campanhas de valorização do magistério e da educação da qualidade, defendendo o ensino religioso nas escolas. Foi reitor e professor em três cidades (Estrasburgo, Bordeaux e Grenoble). Ele fazia parte da Guarda Nacional durante a Revolução de 1848, assim como Ozanam e o 3º Presidente-geral (Adolphe Baudon), além de muitos outros membros da Sociedade. Lamache foi premiado com a “Cruz da Legião de Honra”, assim como a irmã Rosalie Rendu, Lallier e Ozanam. Lamache morreu aos 82 anos, em Grenoble (Suíça).

Pierre-Auguste Le Taillandier

Pierre-Auguste Le Taillandier (1811-1886) é natural de Rouen (França), mas sua família se mudou para Paris onde ele pôde concluir os estudos. Juntou-se a Ozanam nas “Conferências de História”. Em 1833, foi ativo na fundação da Sociedade de São Vicente de Paulo. Dava instruções religiosas aos aprendizes nas visitas domiciliares e com prisioneiros. Le Taillandier era contrário ao primeiro desmembramento da Conferência de Caridade, pois pensava que entidade acabaria, sendo lembrado por ter chorado durante o debate sobre o assunto em dezembro de 1835. Em 1837, foi para Le Mans e depois à sua cidade natal, Rouen. Auguste foi o primeiro dos jovens fundadores a receber o sacramento do matrimônio. Ele se casou com Marie Baudry, em 7 de agosto de 1838. O casal teve quatro filhos, sendo três meninas e um menino. Em Rouen, ele foi diretor de uma ​​companhia de seguros e de um hospital. Lá, ele fundou em 1841 uma Conferência, vindo a ser presidente dela. Ele era muito popular entre seus irmãos da Conferência. Como sinal de gratidão a ele, os membros da Conferência São Godard apresentaram-lhe um presente: um vitral com o retrato dele. Ele recebeu muitos títulos de honraria.

Antônio-Frederico Ozanam

Antônio-Frederico Ozanam (1813-1853) nasceu em Milão, que pertencia ao império francês àquela altura. Ainda criança, com 3 anos, mudou-se com a família para Lion. Seus pais eram exemplo de caridade e de serviço aos pobres. Frederico entrou no colégio em 1822 para os estudos secundários. Estudante brilhante e leitor insaciável, aos 17 anos já falava várias línguas. Em 1831, chegou a Paris para estudar Direito na Sorbonne. Em pouco tempo, converteu-se num assíduo frequentador dos ambientes intelectuais e começou a colaborar com jornais e revistas. Participou das Conferências de História e foi um dos fundadores da Conferência da Caridade, em 1833. Doutor em Direito (1836) e depois em Letras (1839), Ozanam iniciou uma brilhante carreira universitária que o levaria, em 1844, a tornar-se o titular da cátedra de Literatura Estrangeira na Universidade da Sorbonne e a viver sua profunda vocação ao magistério. Em 1841, casou-se com Amélie Soulacroix. O casal teve apenas uma filha: Marie Josephine. Sempre teve uma saúde debilitada, vindo quase a falecer quando criança. Morreu de uma infecção renal, que começou a atacá-lo em 1846. Ozanam foi recebido por vários papas e é considerado um dos precursores da Doutrina Social da Igreja. Foi beatificado em 1997, e desde então o Conselho Geral vendo atuando, firmemente, pela canonização, reunindo testemunhos de milagres em várias nações. Frederico Ozanam morreu na noite de 8 de setembro de 1853, em Marselha, rodeado dos seus entes mais queridos, depois de uma agonia longa e dolorosa.

Emmanuel-Joseph Bailly de Surcy

Emmanuel-Joseph Bailly de Surcy (1794-1861) nasceu numa família muito devota de São Vicente de Paulo. Ele chegou a frequentar o seminário vicentino, recebendo educação em teologia e filosofia. Aos 25 anos, foi para Paris e decidiu pela vocação de leigo. Em 1819, abriu sua primeira pousada voltada para jovens do interior que vinham estudar na capital. Ele foi o fundador das Conferências de História, e lá conheceu vários dos futuros fundadores da SSVP. Em 1821, Bailly abriu sua segunda pensão. Em 20 de julho de 1830, casou-se com Marie-Apolline-Sidonie Vyrayet de Surcy. Teve seis filhos (duas freiras, dois sacerdotes, uma solteira e outro solteiro), mas sem netos. Bailly ofereceu a redação do jornal “La Tribune Catholique” para a fundação da SSVP. Ele foi o primeiro presidente da Conferência de Caridade e, em 1839, o primeiro Presidente-geral. Em 1844, ele deixou a função, mas permaneceu ativo no Conselho Geral até quase o fim de sua vida. Após a morte de Ozanam, surgiu um debate artificial sobre quem teria sido o fundador da SSVP, e Bailly declarou que era preciso “abandonar a polêmica”, afirmando que a fundação fora colegiada. Emmanuel Bailly agregou “de Surcy” ao seu sobrenome, em homenagem à família da esposa.

François Lallier

François Lallier (1814-1886) nasceu na região da Borgonha. Participou da Conferência de História e, logo depois, da fundação da SSVP. Foi Lallier quem propôs a entrada de novos membros na Conferência. Mas a admissão de uma nova pessoa dividia o grupo. Depois de muito convencimento, o oitavo membro (Gustave Colas de la Noue) pôde entrar na Conferência, em setembro de 1833. Ele estudou Direito na Sorbonne. Casou-se em 22 de abril de 1839 com Henriette Deporte. Era, segundo Amélia Ozanam, o mais querido dos amigos de seu marido. Ozanam o escolheu, em 1845, para ser o padrinho de Maria Josephine. Advogado competente, depois juiz de Direito, François Lallier era reconhecido pelo uso culto da linguagem e teve o privilégio de minutar a primeira Regra, em 1835. Em 1837, foi nomeado Secretário-geral da Sociedade, encarregado de redigir circulares e cartas. Lallier foi um dos grandes responsáveis pela expansão das Conferências para outras nações. Ele fundou muitas Conferências. Além disso, ele tinha um interesse ativo em arqueologia, em Sens. Um dos trabalhos mais destacados de Lallier foi escrever, em 1879, a pedido do 3º Presidente-geral, Adolphe Baudon, o livreto “As origens da Sociedade de São Vicente de Paulo, de acordo com as recordações dos seus primeiros membros”, ocasião em que ele reuniu-se com os fundadores vivos àquela altura (Le Taillandier, Lamache e Devaux) para elaborar tal documento, que foi publicado em 1882.